Alguns dos que moram no Brasil e Latam, sabem que o que chamamos futuro por aqui é presente faz tempo em outras regiões.
Isso é assim desde sempre. Quem visita regiões mais desenvolvidas entra numa bolha de inovação, experimentando antes o que vai acontecer por aqui, se acontece, depois.
Falando do mundo dos modelos de negócios que é minha paixão e o propósito da minha empresa principal Babel-Team, vamos ver, crescentemente, a transformação da economia de um modelo predominantemente industrial a um modelo com base em ecossistemas com repercussões não apenas em como geramos valor e capturamos valor, mas também no mindset dos empresários e empreendedores.
Neste artigo inspirado por um desafio proposto pela turma 2019 de ESTUDOS DE FUTURO da Casa Firjan, vamos dar uma olhada no futuro a partir do trabalho que fiz este ano em USA e Itália e das leituras, conhecimentos e práticas que acumulamos com minha equipe e parceiros dos quatro projetos empresariais que estou liderando.
· Por que o mundo vai para mais descentralização
· Como a economia de plataforma (ecossistemas) pode criar um futuro melhor para as economias emergentes, mas apenas se for “bem-feita”
Eu realmente também acredito com Erik Vermeulen que uma grande parte da resposta para um futuro melhor para todos em mercados emergentes é que mais empresas e organizações se estruturem e operem como plataformas, “façam parceria” com plataformas ou se tornem parte de uma ou mais plataformas.
Por plataformas, simplesmente me refiro a qualquer organização que use tecnologias digitais para criar conexões entre dois ou mais grupos de usuários tipicamente peer Producers e peer Consumers. Exemplos óbvios são Amazon (conectando compradores e vendedores de mercadorias), Facebook (conectando familiares e amigos), Uber e Airbnb (conectando provedores de serviços e usuários).
Mas, como vamos ver agora, o pensamento de plataformas impacta muito além do estrito mundo dos negócios alcançando a sociedade toda.
A rápida proliferação global de tecnologias digitais – obviamente smartphones, Internet, algoritmos e computação em nuvem – significa que plataformas estão sendo estabelecidas em todos os lugares, segundo Erik Vermeulen.
Eu escrevi sobre isso antes em Networks: o poder dos modelos de negócios pós-industriais.
O surgimento de plataformas bem-sucedidas na África (YEGOMOTO e SafeMotos no Ruanda) e no Sudeste Asiático (GO-JEK na Indonésia) ilustram a adaptabilidade universal desse modelo de negócios.
Certamente, eles geralmente começam como empresas “simples” de compartilhamento de viagens, mas podem evoluir rapidamente para “super aplicativos” que oferecem muitos outros benefícios sociais e econômicos.
Para ilustrar esse aumento, o GO-JEK “apenas” precisou de três anos para passar de 100.000 pedidos por dia (em 2015) para mais de 100 milhões de pedidos em mais de 18 serviços em 2018.
Tais exemplos mostram como as economias menos desenvolvidas podem implantar plataformas como um meio de “avançar” uma fase anterior (industrial) do desenvolvimento econômico e “saltar” diretamente para a era digital.
Nossos países emergentes também passam por esse mergulho no futuro. Gosto de mencionar Rappi com um exemplo de este tipo de modelo de negócio, entre muitos outros.
Mas o valor real das plataformas é que elas transferem o poder dos antigos (e frequentemente corruptos e ineficientes) operadores históricos centralizados. Na melhor das hipóteses, as plataformas têm o potencial de redistribuir o poder e criar sociedades mais abertas e mais “descentralizadas”.
Sociedades mas descentralizadas necessitam tecnologia (Estônia, de quem recentemente virei e-resident) é um exemplo da aplicação do mindset de ecossistemas na sociedade. Porém, especialmente necessitam ter uma mentalidade e não apenas tecnologia para pensar em modo-ecossistema e não apenas em modo lineal.
A emergência deste futuro desejável tem fortes fundamentos econômicos como descrevi em Teoria Unificada de la Economia Digital.
As tecnologias de plataforma e automação reduziram os níveis de entrada no mercado para fornecedores e consumidores de produtos e serviços. O aumento da conectividade, escolha, conveniência, colaboração e co criação levou a mais inclusão financeira, igualdade de gênero e empregos de melhor qualidade.
Ao redistribuir o poder dessa maneira, eles criaram novas oportunidades em comunidades e regiões que antes enfrentavam dificuldades com instituições centralizadas de baixo desempenho. (@erikpmvermeulen)
Igualmente, no entanto, é difícil ignorar os problemas enfrentados pelas plataformas.
Existem muitos exemplos recentes de plataformas conhecidas que “esquecem” a importância de melhorar a vida das pessoas através da redistribuição da energia. Plataformas tão bem-sucedidas quanto Amazon, Facebook e Uber cometeram erros graves.
Vendo o futuro como cenários que podemos desenhar e propositalmente fazer acontecer, sugiro refletir num tema que aparece recorrentemente na agenda do Rio de Janeiro (onde moro como “carioca assimilado”): transformando cidades inteligentes em ecossistemas urbanos inteligentes
Cada cidade ou região urbana define suas próprias prioridades únicas em fatores sociais, ambientais e econômicos. Isso dificulta a aplicação de projetos de tecnologia global, pois não existe uma abordagem “tamanho único” o industrial, acrescento a este excelente artigo de Gartner.
■ A Internet das Coisas (IoT) está sendo implantada não apenas para operações, monitoramento e eficiência, mas para criar uma consciência situacional sistemática dos ativos, cidadãos e meio ambiente.
■ Os ecossistemas urbanos inteligentes serão impulsionados por um ambiente de aplicativos de várias camadas que utiliza dados urbanos abertos do governo e de negócios para gerar um mercado de dados.
■ Os CIOs estão desafiando seus fornecedores de TI e OT a criar plataformas urbanas de código aberto para evitar o aprisionamento de fornecedores.
Os CIOs do governo local que estão migrando para o governo digital por meio de iniciativas de cidades inteligentes podem:
■ Conectar seus investimentos, projetos e programas em cidades inteligentes a uma estratégia mais ampla de ecossistemas urbanos inteligentes.
■ Contribuir ou alinhar a governança de TI com a definição de uma estratégia de governança de dados para permitir a extração e contextualização de dados em plataformas de serviços e trocas de dados e para novas abordagens usando inteligência artificial (AI) e blockchain.
■ Interconectar projetos menores para estabelecer melhores práticas e adiar as abordagens do big bang (acrescento: muito frequentes nos nossos países), aproveitando os sites de inovação e os “laboratórios vivos”.
■ Priorizar plataformas de colaboração que apoiam o foco conjunto dos ecossistemas em direção às metas da comunidade, equidade digital e troca de conhecimento.
■ Liderar com uma nova cultura de serviço e governo para acelerar a transformação digital, que é flexível e medida por critérios de sucesso de cidadãos e funcionários, como inclusão e inovação.
Conclusões:
Como nos ensinaram nossas professoras Carol Fernandes e Isabella Rangel Petrosillo, pesquisadoras do Lab de Tendências da Casa Firjan o futuro não é necessariamente algo inevitável a qual irremediavelmente estamos condenados.
Babel-Team escreveu e publicou este conteúdo em português e espanhol para sua rede de contatos no LinkedIn. Agradecemos a generosidade de @erikpmvermeulen compartilhando seu pensamento em Medium.
A imagem do cabeçalho foi tomada de http://thecontextofthings.com/2016/12/18/platform-thinking/ O vídeo com Jorge Aldrovandi foi gravado e editado por @FabioHansen da equipe de Babel-Team
Efeitos de Rede network effects platform business model Platform Thinking
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